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A Intrusa: a mulher e o moralismo da sociedade Em A Intrusa, Julia retrata Argemiro, um viúvo rico e respeitado que, após jurar fidelidade à esposa em seu leito de morte, decide nunca mais se casar. Quando contrata uma jovem governanta para cuidar de sua casa e de sua filha, o convívio desperta tensões afetivas e desconfianças na sociedade conservadora do início do século XX. Com uma escrita envolvente e olhar crítico, a autora expõe o peso das aparências e os julgamentos morais impostos às mulheres, discutindo o papel feminino, o luto, a fidelidade e a moralidade burguesa. Em tom sutil, Julia desmonta o ideal de virtude da época e revela a complexidade emocional de seus personagens — em especial das mulheres, frequentemente presas às expectativas sociais. | |
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A Isca: paixões, dilemas e o insólito Publicado em 1922, A Isca reúne quatro novelas — A Isca, O Homem que Olha para Dentro, O Laço Azul e O Dedo do Velho — que exploram diferentes aspectos da condição humana. Na história que dá título ao livro, a fragilidade e a doçura da protagonista se tornam instrumento de manipulação, revelando com ironia a hipocrisia das convenções sociais. O Homem que Olha para Dentro mergulha nas angústias e vaidades masculinas, enquanto O Laço Azul apresenta um jogo de enganos e duplicidades envolvendo duas irmãs gêmeas. Encerrando o volume, O Dedo do Velho adiciona uma dimensão sobrenatural à coletânea, narrando a trajetória de um homem assombrado por uma mão misteriosa que o guia numa busca perturbadora. Com ironia, sutileza e ousadia, Julia demonstra domínio narrativo e uma notável diversidade temática. Suas histórias combinam crítica social, psicologia e imaginação, oferecendo um retrato sensível e instigante de uma sociedade em transformação. Uma voz feminina à frente de seu tempo Autora de romances, contos, crônicas e peças teatrais, Julia Lopes de Almeida foi uma das figuras centrais da vida intelectual brasileira do fim do século XIX e início do XX. Defensora da educação feminina, do divórcio e da abolição da escravidão, escreveu para os principais jornais do país e foi uma das idealizadoras da Academia Brasileira de Letras — instituição que, à época, não admitia mulheres entre seus membros. Décadas depois, foi reconhecida pela Academia Carioca de Letras como patrona da cadeira 26, sendo a única mulher entre os 40 patronos. Sua literatura, marcada por personagens femininas complexas e pelo olhar atento às injustiças e contradições sociais, permanece viva por sua linguagem direta, crítica refinada e sensibilidade moderna. Com A Intrusa e A Isca, o público tem novamente acesso a dois momentos essenciais da escrita de Julia Lopes de Almeida — uma autora que, mais de cem anos após sua estreia, continua a provocar reflexões sobre poder, amor, preconceito e liberdade. Sobre a Janela Amarela Editora A Janela Amarela Editora nasceu durante a pandemia de Covid-19 com o propósito de resgatar obras esquecidas da literatura brasileira e apoiar autores contemporâneos. Criada por Carol Engel e Ana Maria Leite Barbosa, a editora aposta em edições cuidadosas, com ortografia atualizada e notas explicativas para termos em desuso, tornando clássicos acessíveis a novos leitores sem abrir mão de sua essência histórica. Com A Intrusa e A Isca, a Janela Amarela conclui a republicação de todos os romances de Julia Lopes de Almeida, reunindo 17 títulos em catálogo — um feito inédito no Brasil e um gesto de reparação literária que devolve à autora o lugar de destaque que sempre lhe pertenceu. | |



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