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Publicado pela Macabéa Edições, o segundo livro da poeta mineira revisita histórias de mulheres apagadas pela história e entrelaça cosmos, corpo e herança familiar em versos sobre amadurecimento e rebeldia | |
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Há livros que ardem antes mesmo de serem lidos. estado febril (Macabéa Edições, 98 págs.) é um deles. Em versos que costuram a genealogia das mulheres às forças do universo, Thaís Campolina constrói uma poética da insubmissão — uma escrita que resiste à domesticação e afirma o direito das mulheres de existirem em voz alta. O livro atravessa os territórios da infância, da casa e da linguagem para narrar a febre que acompanha toda mulher que pensa, cria e sobrevive. “Desobedecer é o primeiro passo que uma menina precisa dar para poder criar e pensar por conta própria”, afirma Thaís. Em suas mãos, a desobediência se transforma em ciência, constelação e afeto — uma febre que aquece e cura. A origem das mulheres e a ciência dos corposEm quatro capítulos — dupla hélice, corpo celular, lentes de quartzo e a composição das estrelas —, Thaís Campolina faz da poesia um arquivo do que foi silenciado. Entrelaça memórias familiares e descobertas científicas apagadas da história, homenageando mulheres como Rosalind Franklin e Cecilia Payne-Gaposchkin, pioneiras cujos nomes foram eclipsados por colegas homens. Essas vozes compõem uma constelação feminina que se estende da cozinha ao laboratório, do caderno das avós às luas de Saturno. “Elas estão ali como um manifesto contra a invisibilidade dos feitos das mulheres, mas também como uma forma de conectar o eu, o corpo, a família, o mundo e os astros”, explica Thaís. Mulheres mercuriais e o risco da palavraO mercúrio atravessa o livro como metáfora e aviso: ser mulher e pensar é sempre perigoso. Em estado febril, o mercúrio é o elemento químico, o planeta e o temperamento daquelas que recusam o que lhes é imposto. “Ser mercurial é aprender a dizer não”, escreve a poeta. Nos poemas, as cicatrizes da infância — as quedas, o merthiolate, o sangue — tornam-se matéria simbólica de uma cura coletiva. A editora Macabéa Edições, composta inteiramente por mulheres, reforça o gesto político da obra. Os paratextos também são escritos por autoras: Carla Guerson (orelha), Jeovanna Vieira (contracapa) e Letícia Miranda (posfácio). É Letícia quem define o livro como “labiríntico e sonoro, escrito pelas mãos que atravessaram os séculos”. Da casa à constelaçãoNascida em Divinópolis (MG) — cidade natal de Adélia Prado, referência direta em sua formação —, Thaís Campolina pertence a uma linhagem de poetas que transformam o cotidiano em universal. Pós-graduada em Escrita e Criação pela Unifor, atua como redatora, crítica literária, mediadora de clubes de leitura e curadora da página Bafo de Poesia. Autora do premiado eu investigo qualquer coisa sem registro (Crivo Editorial, 2021), Thaís afirma que estado febril é o livro que mais a definiu: “Ele representa a consolidação do meu sonho de ser escritora. Não só pelo conteúdo, mas por todo o processo coletivo que o antecedeu”. O projeto foi financiado via Benfeitoria e superou 100% da meta. Entre memórias, minerais e metáforas, estado febril é um manifesto pelo direito de pensar, criar e permanecer. Uma poesia que, como as mulheres que a escrevem, arde, desafia e funda mundos novos. Confira um poema do livro:a sociedade das poetas vivas além da margem já no encontro com o corpo celular dos neurônios as palavras viram um unguento prateado líquido e possivelmente tóxico para quem não foi acostumado a essas altas doses de incômodo com os joelhos avermelhados de mercúrio-cromo ou merthiolate descobri a desobediência da linguagem FICHA TÉCNICA Livro: estado febril Autora: Thaís Campolina Número de páginas: 98 ISBN: 978-85-93637-22-3 Gênero: Poesia Editora: Macabéa Edições Ano: 2025 Adquira “estado febril” pelo site da Macabéa Edições: https://www.macabeaedicoes. |
04 novembro 2025
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Desobedecer para existir: em “estado febril”, Thaís Campolina faz da poesia um gesto político de memória e insubmissão feminina
Desobedecer para existir: em “estado febril”, Thaís Campolina faz da poesia um gesto político de memória e insubmissão feminina
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