Silêncio do necrotério - Joana D'arc

Destaque

31 agosto 2024

Silêncio do necrotério



Era uma noite fria no necrotério. O silêncio reinava, quebrado apenas pelo som distante dos passos do vigia noturno. Veronica, uma jovem médica legista, estava de plantão sozinha. Ela estava acostumada à quietude mórbida do local, mas naquela noite havia algo diferente no ar, uma sensação opressiva que fazia seus pelos arrepiarem.

Enquanto analisava um corpo recém-chegado, ouviu um sussurro suave, quase imperceptível. Pensou ser apenas sua mente pregando peças, mas o sussurro continuou, mais insistente. "Veronica..."

Ela se virou rapidamente, mas não viu nada. O coração começou a bater mais rápido, e ela tentou se concentrar no trabalho. De repente, as luzes piscaram, e o frio na sala pareceu aumentar, como se algo gelado e maligno estivesse presente.

"Veronica, ajude-me..." A voz parecia vir de todos os lados. Veronica, agora visivelmente assustada, seguiu o som até uma gaveta no final da sala. Com mãos trêmulas, abriu a gaveta e encontrou um corpo coberto por um lençol. Lentamente, puxou o lençol, revelando o rosto de uma jovem mulher, seus olhos fechados, mas com uma expressão de angústia que parecia ter sido congelada em seu último momento.

Nesse momento, a mulher abriu os olhos, que eram de um branco opaco, e segurou o braço de Veronica com uma força sobrenatural. "Por favor, encontre meu assassino", implorou a mulher com uma voz entrecortada e gélida.

Veronica tentou gritar, mas nenhum som saiu. Ela sentia o frio da morte se infiltrando em seus ossos. Num piscar de olhos, a mulher soltou seu braço e os olhos se fecharam novamente. As luzes voltaram ao normal e o frio desapareceu, deixando apenas um leve cheiro de podridão no ar. Veronica estava em choque, mas sabia que precisava ajudar aquela alma perturbada.

Naquela mesma noite, investigou o histórico do corpo e descobriu que a mulher, chamada Ana Clara, havia sido assassinada, mas o caso nunca fora resolvido. Determinada, Veronica iniciou uma investigação paralela, passando noites em claro, conectando pistas esquecidas e documentos empoeirados.

Conforme se aprofundava na investigação, começou a notar que coisas estranhas aconteciam ao seu redor. Objetos se moviam sozinhos, sombras sem dono passavam rapidamente pelos cantos de seus olhos e o som de passos fantasmagóricos ecoava em sua casa. O medo e a tensão cresciam, mas a determinação de Veronica era maior.

Com o tempo, encontrou pistas que levaram à prisão do verdadeiro assassino, um homem que havia passado despercebido durante anos. Após a prisão, Veronica voltou ao necrotério, seu coração pesado com a responsabilidade que havia carregado.

No silêncio do necrotério, sentiu uma presença reconfortante. "Obrigada, Veronica", sussurrou a voz de Ana Clara, desta vez com um tom de paz. Veronica sorriu, sabendo que havia cumprido sua missão. Mas a noite fria no necrotério sempre a lembraria da linha tênue entre o mundo dos vivos e dos mortos, e dos segredos que ela havia desvendado naquela noite de terror.

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