“A Torre”, estreia literária de Thaís Alcoforado, usa o tarot como guia poético para falar de desmoronamento e libertação - Joana D'arc

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10 outubro 2025

“A Torre”, estreia literária de Thaís Alcoforado, usa o tarot como guia poético para falar de desmoronamento e libertação

Publicada pela editora Primata, a obra da recifense Thaís Alcoforado constrói, a partir dos arcanos maiores do tarô e de referências clássicas, uma cartografia lírica sobre traumas, perdas e a potência de transformação que nasce deles.


“Ao escrever, Thaís deixa, pela segunda vez, a própria Torre ruir. No vazio que se abre, escuta a linguagem dos sonhos, do corpo e das cartas. Ao fim, a lalangue é solo fértil. A queda, uma nova fundação. E o livro, uma catedral portátil para todos aqueles que, de algum modo, também foram expulsos de seus territórios.”

Gabrielle Estevans, psicanalista, jornalista e escritora, no texto de prefácio


Em sua estreia na poesia, Thaís Alcoforado (@alcoforado.thais) revisita o significado da carta de tarot A Torre em poemas que atravessam não apenas esse arcano, mas também outros seis símbolos do baralho. A apropriação poética desses arquétipos dá corpo a uma escrita que se move entre perdas, traumas, autoconhecimento e metamorfose.


Com prefácio da psicanalista, jornalista e escritora Gabrielle Estevans, “A Torre” (Primata, 116 págs.) se apresenta como um livro-ritual, em que os versos atuam como oráculos pessoais e coletivos. A ilustração da capa é da artista e poeta Priscilla Menezes.


A carta que dá título ao livro introduz sua premissa: o que acontece antes, durante e depois do desmoronamento? Os poemas seguintes funcionam como guias diante dos escombros, dos vestígios do que ruiu e das frestas de libertação que se abrem no chão da queda.


Segundo Gabrielle Estevans, o tarot, na obra, “é estrutura e é língua”. Para ela, Alcoforado oferece uma travessia lírica pelo colapso — de relações, de arquiteturas familiares, de desejos — não como lamento, mas como um ato ritual de reconfiguração do mundo.


Uma escrita-oráculo

A autora define o livro como um experimento de poesia oracular. Para Thaís, o tarot é sobretudo uma ferramenta de introspecção e autorreflexão. Seus poemas nasceram como escrita de sobrevivência e gesto de fé no futuro, mas ganharam unidade após as oficinas de Escriterapia, conduzidas por Gabrielle Estevans, onde ela percebeu que os textos guardavam conexões e poderiam dialogar com os arcanos.


“O tempo todo, seguimos pistas, recebemos indícios. Estar presente é não ignorar essas pistas. Essa é a verdadeira magia, e tanto o tarot como a poesia podem nos ajudar nessa missão”, reflete a autora.


Entre fronteiras, bichos e palavras


Recifense de nascimento e cidadã do mundo, Thaís Alcoforado é advogada, mestre em Direito Internacional e especialista em estudos de paz e conflito. Sua carreira como trabalhadora humanitária a levou a viver no Senegal, Irã e República Dominicana, antes de chegar ao Panamá, onde atualmente reside.


Durante o último ano, viveu na província do Darién, em um povoado rural no Panamá próximo à fronteira com a Colômbia. Cercada pela natureza e por animais, reencontrou a escrita e o tarot como práticas essenciais de vida. Foi nesse território silencioso e selvático que “A Torre” ganhou forma.


“Percebi que quanto mais se escreve, mais se torna urgente e inevitável escrever. Agora, minha meta é manter aberto esse canal, criando espaços intencionais para que a escrita exista dentro da vida cotidiana”, afirma.


Na poesia brasileira contemporânea, Thaís cita como referências Bruna Beber, Ana Estaregui, Prisca Agustoni, Sofia Mariutti, Mar Becker e Júlia Carvalho Hansen. No campo do tarot, destaca Alejandro Jodorowsky e sua obra “O Caminho do Tarot”, escrita em parceria com Marianne Costa.


Entre as influências diretas de “A Torre” estão também os diários de Susan Sontag, o livro Eros, o amargo-doce, de Anne Carson, e a obra clássica “Mulheres que correm com os lobos”, de Clarissa Pinkola-Estés — leituras que alimentam sua busca por uma escrita sinestésica, capaz de transitar entre o cotidiano e o espiritual.


Sobre projetos futuros, a poeta revela estar reunindo um conjunto de poemas em homenagem à fazenda que a acolheu no último ano, uma espécie de manifesto dedicado aos animais que cruzaram seu caminho.


Confira o poema “Hefesto” do livro “A Torre” (página 19):


“Como a construção

A catástrofe também demanda paciência

Ainda assim, o momento exato do desabamento

Parece sempre repentino

Os acontecimentos teriam sido devastadores

Se eu não tivesse começado a me preparar

Sem suspeita

Justo a tempo

Para todo tipo de emergências

Tudo que veio antes, um ensaio

Tudo o que vier depois, uma réplica

Do choque primordial”


FICHA TÉCNICA

Livro: A Torre

Autora: Thaís Alcoforado 

Rede social da autora: https://www.instagram.com/alcoforado.thais/

Número de páginas: 116

ISBN : 978-65-5269-041-8

Gênero: Poesia

Editora: Primata

Também: 2025

Adquira no site da editora:  https://www.editoraprimata.com/a-torre-de-thais-alcoforado/p 

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