Era uma noite fria e chuvosa quando Ana, uma jovem
enfermeira, começou seu turno noturno no Hospital São Vicente. O hospital,
conhecido por sua arquitetura antiga e corredores longos e escuros, sempre teve
uma atmosfera um tanto sinistra. Mas naquela noite, algo parecia diferente.
Havia um silêncio incomum, como se o próprio prédio estivesse segurando a respiração.
Ana estava na ala de internação, onde muitos pacientes estavam em recuperação. Ela sempre foi uma profissional dedicada, mas não podia deixar de sentir um arrepio na espinha ao passar pelos quartos vazios. Enquanto verificava os sinais vitais de um paciente, ouviu um sussurro suave, quase imperceptível, vindo do corredor. "Não deixe que eles me levem", dizia a voz. Ana olhou ao redor, mas não viu ninguém.
Decidida a ignorar o incidente, ela continuou com suas tarefas. No entanto, a sensação de estar sendo observada não a deixava. A cada passo que dava, parecia que sombras se moviam nas paredes, seguindo-a. Quando chegou à sala de descanso, encontrou sua colega, Carla, que também parecia perturbada.
"Você ouviu isso?", perguntou Carla, com os olhos arregalados. "Aquela voz... parecia tão real."
Ana assentiu, sentindo um nó na garganta. "Sim, ouvi. Mas não vi ninguém."
As duas enfermeiras decidiram investigar. Caminharam juntas pelos corredores, iluminados apenas pelas luzes fracas dos monitores dos pacientes. Quando chegaram ao final do corredor, viram uma figura indistinta parada perto da janela. A figura parecia estar olhando para fora, mas quando se aproximaram, ela desapareceu.
"Isso está ficando assustador", disse Carla, tentando manter a calma. "Talvez devêssemos chamar a segurança."
Antes que pudessem fazer qualquer coisa, um som alto ecoou pelo corredor. Era como se algo pesado tivesse caído. As duas correram na direção do som e encontraram uma cadeira de rodas virada de lado, como se alguém a tivesse empurrado com força.
"Isso não é normal", murmurou Ana, sentindo o coração acelerar. "Precisamos descobrir o que está acontecendo."
Elas decidiram verificar os registros do hospital, procurando por qualquer pista que pudesse explicar os eventos estranhos. No arquivo, encontraram uma antiga pasta empoeirada, com relatos de pacientes e funcionários sobre aparições e eventos sobrenaturais. Um dos relatos mais antigos falava sobre uma paciente chamada Maria, que havia falecido no hospital há muitos anos. Segundo o relato, Maria sempre dizia que via "sombras" tentando levá-la.
"Será que é ela?", perguntou Carla, olhando para Ana. "Será que o espírito dela ainda está aqui?"
Ana não sabia o que pensar. Ela nunca foi muito supersticiosa, mas os eventos daquela noite estavam desafiando sua lógica. Decidiram voltar para a ala de internação e tentar se comunicar com o espírito de Maria. Talvez, se conseguissem entender o que ela queria, poderiam ajudá-la a encontrar paz.
Quando chegaram ao quarto onde Maria havia falecido, sentiram uma presença forte. O ar estava gelado, e as luzes piscavam. Ana, com a voz trêmula, chamou pelo nome de Maria. "Maria, estamos aqui para ajudar. O que você quer?"
Por um momento, tudo ficou em silêncio. Então, uma brisa fria passou pelo quarto, e a figura indistinta apareceu novamente. Desta vez, ela estava mais clara. Era uma mulher, com olhos tristes e uma expressão de desespero. "Não deixe que eles me levem", repetiu a figura.
Ana deu um passo à frente, tentando parecer corajosa. "Quem são eles, Maria? Quem está tentando te levar?"
A figura apontou para o canto do quarto, onde uma sombra escura parecia se mover. "Eles", disse Maria, com a voz cheia de medo. "Eles vêm para levar as almas dos que estão prestes a partir. Eu não quero ir com eles."
Carla, tentando manter a calma, perguntou: "Como podemos te ajudar, Maria? O que podemos fazer para que você encontre paz?"
A figura de Maria olhou para elas com gratidão. "Ajudem-me a encontrar a luz. Eu estou presa aqui, entre este mundo e o próximo. Preciso de ajuda para seguir em frente."
Ana e Carla decidiram realizar uma pequena cerimônia, acendendo velas e recitando orações. Pediram para que Maria encontrasse a paz e seguisse para a luz. Aos poucos, a figura de Maria começou a desaparecer, e a sensação de peso no ar diminuiu.
Quando terminaram, o hospital parecia mais tranquilo. As sombras nas paredes desapareceram, e o silêncio voltou a ser apenas o silêncio da noite. Ana e Carla se olharam, aliviadas.
"Eu acho que conseguimos", disse Ana, com um sorriso tímido. "Acho que ajudamos Maria a encontrar paz."
Carla assentiu. "Sim, acho que sim. Espero que ela esteja em um lugar melhor agora."
Naquela noite, as duas enfermeiras aprenderam que, às vezes, o inexplicável pode ser real. E que, mesmo nos momentos mais sombrios, há sempre uma luz esperando para guiar as almas perdidas para casa.
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