
Era uma noite fria e nebulosa de inverno em 1987, na pequena cidade de Vila Serena. A lua cheia, quase escondida pelas nuvens, iluminava tenuemente as ruas desertas. Maria, uma jovem enfermeira de 25 anos, estava voltando para casa após um turno exaustivo no hospital local.
Para encurtar o caminho até sua casa, ela decidiu atravessar a velha ponte de madeira, um lugar envolto em lendas e mistérios. Diziam que, à meia-noite, a ponte era assombrada pelo espírito de uma mulher que havia desaparecido ali décadas antes. Maria não acreditava nessas histórias, mas, naquela noite, algo parecia diferente.
Enquanto caminhava, ouviu passos pesados atrás dela. O som do calçado no madeiramento ecoava pela ponte, tornando-se cada vez mais próximo. Maria virou-se rapidamente, mas não viu ninguém. Sentiu um arrepio subir pela espinha e acelerou o passo, tentando ignorar a sensação de estar sendo observada.
De repente, os passos pararam, substituídos por um sussurro quase inaudível que parecia chamá-la pelo nome. "Maria...", a voz parecia vir de todas as direções. Ela congelou no lugar, o coração batendo descontroladamente no peito. Tentando manter a calma, virou-se lentamente e viu a figura de uma mulher, pálida e translúcida, flutuando a poucos metros de distância.
A mulher tinha longos cabelos negros, que balançavam levemente apesar da ausência de vento. Vestia roupas antigas, de estilo vitoriano, e seus olhos estavam cheios de uma tristeza profunda. "Ajude-me", a figura suplicou, com uma voz que parecia ecoar na mente de Maria.
Embora aterrorizada, Maria encontrou forças para responder. "Como posso ajudá-la?", perguntou, com a voz trêmula. A mulher contou sua trágica história: seu nome era Isabela, e ela havia morrido na ponte muitos anos antes, após cair no rio durante uma noite tempestuosa. Seu corpo nunca fora encontrado, e seu espírito estava preso ali, incapaz de descansar.
Maria, movida por um súbito senso de compaixão e dever, prometeu ajudar Isabela. No dia seguinte, retornou à ponte com alguns colegas do hospital, que, embora céticos, decidiram acompanhá-la. Munidos de lanternas e ferramentas de escavação, começaram a buscar nas margens do rio e sob a ponte.
Após horas de procura, um dos colegas de Maria gritou: "Encontrei algo!" Embaixo de uma camada espessa de lama, descobriram um velho baú de madeira. Ao abrirem, encontraram ossos humanos e alguns pertences pessoais, incluindo um medalhão com a inscrição "Isabela". O mistério da velha ponte estava finalmente resolvido.
Os restos mortais foram levados ao cemitério local e enterrados com uma cerimônia apropriada. Naquela noite, enquanto a cidade dormia, Maria voltou à ponte. Sentia-se em paz, sabendo que havia cumprido sua promessa. Nunca mais viu o fantasma de Isabela, mas sentiu uma presença cálida, como um agradecimento silencioso.
Desde então, a velha ponte deixou de ser um local de medo e passou a ser um símbolo de redenção e paz. Os moradores de Vila Serena ainda contam a história de Maria e Isabela, lembrando que, mesmo nas noites mais escuras, há sempre uma chance de trazer luz e consolo aos que precisam.
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