Com curadoria de Jéssica Balbino e Néli Simioni, o “Meu Corpo Sou Eu” consolida um viés inédito no cenário dos clubes de leitura ao colocar corpos dissidentes no centro da literatura
O Clube do Livro “Meu Corpo Sou Eu” nasceu da convicção de que ler também é uma forma de habitar o mundo, inclusive com os corpos que escapam das normas. Mais do que um clube tradicional, é um espaço afetivo e engajado que reúne, a cada ciclo, mulheres, pessoas não binárias e corpos dissidentes para conversar sobre literatura que toca pele, gênero, marginalidades e identidade.
Criado e mediado pelas jornalistas e escritoras Jéssica Balbino e Néli Simioni, o clube tem se consolidado como um ponto de encontro entre leitura crítica e experiência vivida, propondo debates que atravessam corpo, escrita e representatividade. Cada ciclo elege obras contemporâneas de autoras brasileiras, muitas publicadas por editoras independentes, para provocar reflexões que vão além das páginas e reverberam no cotidiano dos participantes.
Mais do que um espaço de leitura, o “Meu Corpo Sou Eu” tem se tornado um movimento de circulação de ideias, afetos e corpos na literatura contemporânea. A cada encontro, pessoas de diferentes estados participam, muitas delas pela primeira vez em clubes de leitura, construindo uma comunidade leitora que lê com o corpo, pela escuta e com afeto.
Corpos como eixo de leitura
Na primeira edição, as leituras foram pensadas para colocar o corpo no centro da literatura contemporânea. A filósofa Valeska Zanello inaugurou o ciclo com reflexões sobre saúde mental e patriarcado. Em seguida, Mariana Salomão Carrara, autora de Se Deus me Chamar não Vou, trouxe sua prosa íntima e afiada sobre dor e desejo.
A ativista Malu Jimenez, de Lute como uma Gorda, deslocou o olhar para a perspectiva gorda e feminista, propondo a literatura como ferramenta de resistência e afirmação de corpos historicamente apagados.
A escritora Rafaela Ferreiraparticipou de diálogos sobre juventude, redes sociais e escrita como abrigo — temas que ressoam fortemente entre leitoras e leitores jovens.
Para os próximos meses, o clube amplia seu repertório com Carmen Maria Machado, autora de O corpo dela e outras farras (novembro), e encerra o ano com Porca Gorda, autoficção radical de Jéssica Balbino (dezembro).
Encontro de outubro — Eu só cabia nas palavras, de Rafaela Ferreira
A próxima edição, marcada para 15 de outubro (quarta-feira), das 19h30 às 21h30, será dedicada ao romance juvenil Eu só cabia nas palavras (HarperCollins, 2023).
A obra acompanha Giovana, uma adolescente gorda que enfrenta a gordofobia e a invisibilidade afetiva na escola, nas redes e na intimidade. A escrita se torna seu território de resistência, expressão e pertencimento.
Com linguagem envolvente e densidade emocional, Rafaela Ferreira aborda temas como pressão estética, adolescência, desejo e amizade, fugindo de caricaturas e moralismos.
Sua narrativa articula o universo digital à construção de identidade, captando com precisão as tensões entre visibilidade e vulnerabilidade. Ao fazer isso, abre espaço para corpos gordos na literatura juvenil não como exceções, mas como protagonistas de histórias de afeto e potência.
O encontro é online , com inscrições pelo Sympla:
https://www.sympla.com.br/evento-online/clube-do-livro-meu-corpo-sou-eu--ciclo-2-eu-so-cabia-nas-palavras/3126610
Nenhum comentário:
Postar um comentário