Espetáculo expõe horrores do totalitarismo e celebra a resistência da arte sobre a barbárie.
Crédito: Leekyung Kim
Sucesso da dramaturgia nacional, a peça Novas Diretrizes em Tempos de Paz, de Bosco Brasil, ganha uma nova montagem dirigida por Eric Lenate, que também está em cena ao lado de Fernando Billi. O espetáculo, que ainda tem direção de produção de Mauricio Inafre, faz sua estreia paulistana no dia 31 de outubro no Teatro Estúdio, onde segue em cartaz até 8 de fevereiro de 2026, com sessões às sextas e aos sábados, às 20h, e aos domingos, às 16h.
Montada pela primeira vez em 2002, sob a direção de Ariela Goldmann, a peça fez um enorme sucesso de crítica e de público e recebeu os prêmios Shell e APCA daquele ano. O texto também foi traduzido para diversos idiomas e ganhou montagens em Portugal, Itália, Argentina, Porto Rico, Uruguai, Chile e México. Além disso, foi adaptado para para o cinema no longa-metragem “Em Tempos de Paz” (2009), dirigido por Daniel Filho e estrelado por Tony Ramos e Dan Stulbach.
A peça é uma fábula de época, que se passa durante a ditadura de Getúlio Vargas (1937-1945), já no final da Segunda Guerra Mundial, e narra a história de um do refugiado polonês Clausewitz, que chega ao Brasil disposto a esquecer os horrores que viveu em sua terra natal. Ao se apresentar à Alfândega, em abril de 1945, carregando apenas a roupa do corpo e o sonho de começar uma nova vida como agricultor, ele é barrado por Segismundo, um funcionário da imigração e ex-torturador da polícia política varguista.
Clausewitz chega trazendo nenhum pertence, sem apresentar nas mãos qualquer marca típica da vida de agricultor e o mais estranho: falando português fluentemente. Segismundo suspeita que o imigrante polonês seja, na verdade, um nazista disfarçado tentando entrar no país e dá início a um duro interrogatório que culmina em um inusitado desafio: Clausewitz tem 10 minutos para cumprir uma estranha tarefa, caso contrário, volta no mesmo cargueiro que o trouxe. Dá-se, então, um intenso embate entre os dois homens, que irmanados em suas derrotas pessoais, vão em busca da emoção, que poderá ou não os devolver as suas humanidades.
Na nova encenação, Fernando Billi assume o papel do interrogador, Segismundo, e Lenate do imigrante polonês, Clausewitz. O espetáculo teve sua estreia nacional na 17ª FITA – Festa Internacional de Teatro de Angra, em agosto de 2025, na qual recebeu indicações ao Prêmio FITA 2025: melhor espetáculo, melhor direção, melhor ator (Eric Lenate), melhor trilha sonora (L. P. Daniel), melhor cenário (Eric Lenate) e melhor iluminação (Aline Sayuri e Eric Lenate).
A relevância do texto
Novas Diretrizes em Tempos de Paz expõe de forma incisiva alguns dilemas provenientes da tentativa de compreensão do horror. Ao longo do embate entre os personagens, nos defrontamos, metonimicamente, com duas experiências históricas marcadas pela sistemática violação de direitos humanos: a 2ª Guerra Mundial e o regime autoritário do Estado Novo brasileiro.
A obra propicia uma reflexão sobre as articulações entre os perversos mecanismos de subjugação do ser humano utilizados na Segunda Guerra e a experiência histórica dos países periféricos, neste caso o Brasil, convocando estratégias de rememoração que preservam e atualizam as agruras e impasses do período.
As nuances “infinitas” em torno da historiografia do Holocausto valem também, em grande medida, para o contexto de formação da sociedade brasileira. A delicada aproximação que a obra de Bosco estabelece entre a guerra na Europa e o regime varguista confronta o mito de país pacífico e acolhedor – expresso pela ingenuidade de Clausewitz ao projetar sobre o Brasil o lugar mítico de sua redenção – sem, com isso, flexibilizar ou diminuir o sentido extremo da guerra.
Essa tensão é potencializada na medida em que, por um lado, os países latino-americanos convivem em sua história com catástrofes de elevada magnitude, cujos efeitos terríveis na história do Ocidente ainda não encontram um “esforço de memória” condizente com sua dimensão.
Ao colocar em cena um torturador brasileiro e um refugiado da guerra europeu, Bosco desloca para a ótica brasileira e contemporânea várias questões ligadas à tarefa de lembrar a barbárie, propiciando uma reflexão sobre os gestos do algoz e da vítima do fascismo europeu e sua incorporação parcial na estrutura política do Estado Novo, da dificuldade de representar o horror extremo e convertê-lo em testemunho dotado de sentido compartilhável, bem como o papel (im)possível da arte no mundo que emerge da barbárie.
Ficha Técnica
Elenco: Fernando Billi e Eric Lenate
Texto: Bosco Brasil
Direção Artística: Eric Lenate
Codireção Artística: Vitor Julian
Trilha Sonora Original, Desenho Sonoro e Engenharia de Som: L. P. Daniel
Desenho de Luz: Aline Sayuri e Eric Lenate
Figurinos: Jocasta Germano
Visagismo: Leopoldo Pacheco
Arquitetura Cenográfica: Eric Lenate
Assistência de Cenografia: Jorge Luiz Alves
Cenotecnia: Casa Malagueta
Equipe Cenotécnica: Alício Silva, Georgia Massetani, Igor B. Gomes, Danndhara Shoyama, Mizael Costa, João Chiodo, João Carlos, João Victor, Antônio Paulo
Produção e Confecção de Objetos e Adereços: Jorge Luiz Alves e Eric Lenate
Montagem e Operação de Som: Natália Francischini
Montagem e Operação de Luz: Aline Sayuri
Montagem e Operação de Cenário: Jorge Luiz Alves
Assessoria de Imprensa: Helô Cintra e Douglas Pichetti (Pombo Correio)
Fotos de Divulgação: Leekyung Kim
Programação Visual: Dante
Redes Sociais: CANNAL Mídias Digitais
Direção de Produção e Administração: Mauricio Inafre
Assistência de Produção: Regilson Feliciano
Idealização e Gestão de Projeto: Fernando Billi e Eric Lenate
Produção: Uma Arte Produções Artísticas
Sinopse
Em 1945, quando a 2ª Guerra Mundial está perto do fim, um emigrante polonês, Clausewitz (Eric Lenate), desembarca no porto do Rio de Janeiro, em busca de uma nova vida como agricultor. No cais é colocado perante Segismundo (Fernando Billi), um oficial da alfândega que desconfia que Clausewitz seja um nazista tentando entrar no Brasil. Sem um salvo-conduto assinado por Segismundo, Clausewitz será obrigado a voltar ao cargueiro e seguir viagem. Para a obtenção desse salvo-conduto, Segismundo propõe um inusitado desafio ao estrangeiro, o que leva os dois homens a confrontar suas memórias: de um lado um ator que perdeu tudo, do outro um ex-torturador que sempre cumpriu ordens.
Serviço
Novas Diretrizes em Tempos de Paz, de Bosco Brasil
Temporada: de 31 de outubro de 2025 a 8 de fevereiro de 2026
Às sextas e aos sábados, às 20h, e aos domingos, às 16h.
Não haverá apresentações entre os dias 22/12/25 e 08/01/2026
Teatro Estúdio - Rua Conselheiro Nébias, 891 - Santa Cecília, São Paulo (SP)
próximo ao Metrô Santa Cecília
Ingressos: R$ 80 (inteira) | R$ 40 (meia-entrada) | R$ 105 (inteira + Valet) | R$ 65 (meia-entrada + Valet)
Vendas online em Sympla
Bilheteria: 2h antes do início da sessão
Classificação: 14 anos
Duração: 80 minutos
Capacidade: 158 lugares
@oteatroestudio
Informações: (11) 97474-1912
- Acessibilidade no local;
- Serviço de Vallet com Estacionamento no local;
- Bar-Café funcionando a partir de 2 horas antes do espetáculo;
- Bilheteria funcionando 2 horas antes do espetáculo;
INGRESSOS:
Via plataforma SYMPLA e na bilheteria do Teatro Estúdio.
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