SOBRE KREATOR: Quando a primeira formação do KREATOR surgiu, sob influência de Kiss e Judas Priest no início dos anos 80, nada do que viria depois parecia possível. Para jovens adultos, Essen – uma cidade de mais de 600 mil habitantes no Vale do Ruhr naquela época – era um lugar sombrio. As taxas de desemprego estavam altíssimas, as casas eram escurecidas pela fuligem das fábricas e das minas de carvão, e o abuso de álcool e drogas era, para alguns, a única rota de fuga desse cenário desolador e pós-industrial. Enquanto Birmingham deu origem ao Black Sabbath e legitimamente ficou conhecida como o berço do heavy metal, as bandas associadas à New Wave Of British Heavy Metal, como Iron Maiden, Venom e Saxon, carregaram o gênero com uma atitude combativa de rua. Já artistas norte-americanos como Metallica, Exodus, Slayer, além dos suecos do Bathory, intensificaram ainda mais esse estilo. No que diz respeito ao KREATOR, eles absorveram essa perigosa mistura e a devoraram em doses massivas. Para Mille Petrozza e o baterista Jürgen “Ventor” Reil – os membros fundadores ainda remanescentes – a música foi o caminho para escapar daquelas condições adversas, uma válvula de escape para a frustração e o desprezo que ferviam dentro deles. E assim o KREATOR surgiu: ingênuo, caótico, mas extremamente determinado. O grupo deixaria sua marca inconfundível na história do heavy metal, radicalizando o thrash e inspirando legiões de músicos, como Arch Enemy, Cannibal Corpse, Behemoth e Ghost – com Papa Emeritus juntando-se a eles para uma performance na TV de ‘Satan Is Real’ em 2017. Seu mais novo álbum de estúdio, Krushers Of The World, apresenta uma banda que não perdeu nada de sua força, começando com a agressividade voraz de ‘Seven Serpents’. Mille Petrozza presta homenagem aos filmes de terror que sempre adorou, com a faixa ‘Tränenpalast’, inspirada em Suspiria de Dario Argento e que conta com vocais extremos da coach vocal de metal Britta Görtz (Hiraes). Como não poderia faltar, há doses generosas de pura agressão thrash! Faixas como ‘Barbarian’, ‘Deathscream’ e ‘Psychotic Imperator’ oferecem riffs implacáveis, solos majestosos de Sami Yli-Sirniö, e algumas das partes mais rápidas de Ventor. Mas se você busca seções de mid-tempo, permitindo o baixista Frédéric Leclercq brilhar, encontrará tudo isso no peso monumental da faixa-título e no poderoso refrão de ‘Satanic Anarchy’. Com tudo isso, o álbum é complementado por uma produção esmagadora e triunfante de Jens Bogren no Fascination Street Studios, que já havia colaborado com a banda em Phantom Antichrist (2012) e Gods Of Violence (2017). Uma novidade clara em Krushers Of The World está evidente já na sua capa. Criada por Zbigniew Bielak – conhecido por seus projetos com o Ghost – a arte e o design apresentam um toque ousado à história do KREATOR. Bielak transforma os elementos clássicos e icônicos que os fãs reconhecerão de Coma Of Souls (1990), Out of the Dark...Into the Light (1988) e Pleasure To Kill (até na fonte do título!) em uma tapeçaria detalhada repleta de simbolismo oculto. É uma obra que homenageia uma banda que o artista admira desde seus dias de adolescente, adicionando um toque único e ousado ao trabalho. A capa recompensa aqueles dispostos a analisar cada detalhe de seu design grandioso. No essencial, Krushers Of The World não é um retorno nostálgico ao passado do KREATOR, mas um álbum furioso, massivo e criativo por mérito próprio, exibindo uma qualidade de composição refinada ao longo dos anos. Ele mostra uma banda que conquistou um lugar entre os gigantes do gênero, transformando sua raiva juvenil em uma entidade profissional internacionalmente bem-sucedida, mas ainda intimidadora. O álbum reforça o fato de que, alimentado por uma reflexão sobre suas raízes despertada pelo filme Hate & Hope (2025), o KREATOR parece hoje mais consciente de sua história inicial e, ao mesmo tempo, avança sem concessões, imparável em sua busca por novos reinos para conquistar e novos mundos para esmagar. |
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