“Dias Perfeitos Globoplay: Thriller Psicológico que Prende do Início ao Fim” - Joana D'arc

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26 agosto 2025

“Dias Perfeitos Globoplay: Thriller Psicológico que Prende do Início ao Fim”



Eu soube da série Dias Perfeitos (Globoplay) e me joguei na maratona quase que imediatamente. Confesso: foi um soco psicológico daqueles que a gente não quer, mas não consegue desviar o olhar. A trama é baseada no livro de Raphael Montes (2014) e, logo de cara, a série avisa que não veio para abraços calorosos.

Eu me vi grudada em cada fase: da Apresentação, com o frescor da Clarice — aspirante a roteirista sonhadora e independente — até o Confinamento e Obsessão, quando Téo abandona qualquer noção de amor saudável e transforma um beijo inocente num sequestro. A partir daí, a viagem sombria (literalmente) pelos cenários paradisíacos do Rio de Janeiro vira palco de tensão sufocante.

Gosto do jeito como o audiovisual trabalha os contrastes: a câmera precisa, estática e quase fria de Téo — que grita “controle obsessivo” — contrapõe à câmera na mão, tremida, que transmite o medo e o desespero da Clarice. É como se o aparelho respirasse ansiedade junto comigo.

A perspectiva dupla foi um brilhante tiro de mestre: além do olhar de Téo, histórico no livro, a série também traz o ponto de vista de Clarice. Isso faz com que ela transcenda a condição de vítima e ganhe voz, humanidade — e me fez sofrer junto com ela.

As atuações? Uau. Jaffar Bambirra como Téo entra num lugar sombrio e sai dele um artista visceral. E Julia Dalavia entrega Clarice com tanta coragem que, em certos minutos, eu queria gritar “corre, Clarice!”. E quem me acompanha sabe que não costumo pedir prêmios — mas para essas performances, faço uma exceção.

A releitura do livro é visual e sonora. A trilha contribui para aquela sensação de estar sendo envolvida por atmosferas que alternam entre beleza e terror. E os cenários — do chalé nos altos de Teresópolis à praia isolada — criam um contraste arrepiante que me deixou grudada do começo ao fim.

Enquanto eu assistia, refletia como vivemos tempos em que o controle e o desequilíbrio emocional não estão restritos à ficção — seja na vida pessoal, nas redes sociais ou na política. No Brasil, vivemos um momento de alta tensão, polarização e fragilidade emocional coletiva. Assim como Téo torce cada vez mais seus desejos incontroláveis, vejo nas redes muitas narrativas que se tornam obsessão — discursos repetidos, intolerância crescendo como um mantra. A série escancara o perigo que existe quando a fascinação vira prisão, e nos lembra que liberdade não é luxo, é urgência — algo que Clarice luta para preservar, e nos convida a lutar também.

Fora daqui, o mundo também está fragmentado. Pandemias recentes, crises climáticas, desigualdades ampliadas... tudo isso cobra nossa saúde mental. A tensão psicológica de Dias Perfeitos me parece ecoar esse desconforto global: estamos em uma viagem onde beleza e horror se sobrepõem — e muitos não sabem onde termina o amor e começa o desespero.

Dias Perfeitos faz entender que o amor obsessivo é perigoso, e que nossa era também é um território minado de emoções extremas. Assistir a essa série foi como encarar nosso próprio reflexo distorcido — uma ficção, sim, mas muito, muito real.




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