Especialistas quebram o tabu sobre espelhos no Feng Shui

As arquitetas Belisa Mitsuse e Estefânia Gamez explicam como utilizar o espelho em diferentes ambientes da casa, com segurança, beleza e propósito.

Ver-se com a imagem fragmentada pode gerar insegurança. (Crédito: Freepik)

Há décadas cercado de mitos e receios, o uso de espelhos no Feng Shui ainda gera dúvidas, especialmente quando se trata de sua presença no quarto ou na entrada da casa. Mas, segundo as arquitetas Belisa Mitsuse (Bel) e Estefânia Gamez (Tef), sócias do BTliê Arquitetura e especialistas na técnica milenar chinesa, não há motivo para alarde. “Pela linhagem que seguimos, que é o Feng Shui do budismo tibetano, não existe contraindicação. O importante é entender a função que esse espelho vai cumprir e garantir que ele reflita uma imagem completa e nítida”, explica Belisa. O Feng Shui, que busca harmonizar os ambientes com base no fluxo de energia vital (Chi), considera o espelho uma ferramenta poderosa. De acordo com Bel e Tef, ele pode ser usado para ampliar visualmente espaços, corrigir bloqueios energéticos e até atuar como instrumento terapêutico, desde que posicionado corretamente e escolhido com atenção. Espelhos: mitos, cuidados e funções Ao contrário do que costuma ser difundido, o Feng Shui não proíbe espelhos em dormitórios. No entanto, algumas recomendações fazem toda a diferença. Estefânia esclarece que o espelho deve refletir o corpo inteiro da pessoa, ou pelo menos até o topo da cabeça. “Se a imagem for cortada, o cérebro registra essa distorção. Ver-se sem cabeça ou com a imagem fragmentada pode gerar insegurança, desânimo ou sensação de perda de controle”, explica. Além disso, a arquiteta orienta que espelhos de baixa qualidade devem ser evitados. “Os muito finos ou com superfícies que deformam o reflexo transmitem mensagens inconscientes de que há algo errado com a imagem refletida”, alerta Estefânia. Outra recomendação é evitar os modelos com divisões geométricas, que fragmentam o reflexo. “Quando a pessoa se vê ‘em pedaços’, isso afeta a autoestima e pode impactar seu equilíbrio emocional”, acrescenta. As especialistas destacam ainda uma função estratégica dos espelhos: reforçar o senso de comando no ambiente. Para o Feng Shui, a posição de comando é aquela que permite uma visualização ampla do espaço e daqueles que entram ou saem do ambiente. Essa visão privilegiada é especialmente recomendada para os donos da casa ou do negócio. “Se a cama, o sofá ou a mesa de trabalho estiver fora da posição de comando — ou seja, de costas para a porta de entrada — o espelho pode funcionar como um retrovisor, devolvendo à pessoa a sensação de segurança e controle”, orienta Bel. A arquiteta declara ainda que o conforto emocional é prioridade na hora de escolher o melhor local para instalar um espelho. “Se o espelho causa desconforto, assusta ou incomoda o morador de alguma forma, o melhor é não usar. O Feng Shui deve estar a serviço da pessoa, e não o contrário”, enfatiza Belisa. Um recurso versátil para toda a casa Mais do que elemento decorativo, o espelho é, segundo o Feng Shui, um verdadeiro curinga na harmonização dos ambientes. “Ele pode ser usado para ‘completar’ áreas faltantes da planta, ampliar passagens apertadas, atrair mais luz ou refletir elementos importantes da casa, como o fogão”, detalha Belisa. Mas há uma ressalva: apenas espelhos reais funcionam como instrumentos de Feng Shui. “Vidros bronzeados, películas espelhadas ou superfícies que distorcem a imagem não produzem o efeito energético desejado. O cérebro precisa ser ‘enganado’ pela profundidade real do espelho”, explica Estefânia. Dicas práticas para usar espelhos com equilíbrio Evite espelhos que cortem a cabeça ou o corpo da pessoa Prefira espelhos de boa qualidade, com espessura de 4 mm ou mais Não use espelhos fragmentados ou com molduras recortadas Posicione espelhos em locais estratégicos para ampliar ambientes Verifique sempre o que está sendo refletido: evite cenas negativas ou bagunça Não posicione o espelho diretamente em frente à cama se isso causar desconforto

Sobre Bel e Tef: Belisa Mitsuse (Bel) e Estefânia Gamez (Tef) são arquitetas formadas pela FAU Mackenzie que encontraram, na união entre técnica e espiritualidade, uma maneira inovadora de atuar no mercado. A amizade profissional das duas começou em um escritório de arquitetura, onde trabalharam lado a lado, e se transformou em uma parceria que culminou na criação do BTliê Arquitetura, em 2014.

Inspiradas por sua ascendência japonesa e com uma curiosidade latente pela cultura oriental, Bel e Tef mergulharam no universo do Feng Shui, integrando seus conceitos aos fundamentos sólidos da arquitetura. Esse diferencial permitiu que a dupla desmistificasse práticas supersticiosas e trouxesse uma abordagem prática e transformadora para o mercado brasileiro, rompendo com a visão cética tradicional. Além dos projetos personalizados, voltados para promover harmonia e bem-estar, as sócias expandiram sua atuação com a criação do curso Projetando com Feng Shui, a primeira formação reconhecida pelo MEC nessa área. Com ele, impactaram não apenas a vida dos clientes, mas também a carreira de outros arquitetos e designers que buscam integrar propósito e técnica em seus projetos.