O Segredo das Sombras de Embu das Artes - Joana D'arc

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10 março 2025

O Segredo das Sombras de Embu das Artes


Na cidade de Embu das Artes, onde as ruas de paralelepípedo e os casarões coloniais guardam segredos seculares, há uma lenda sussurrada apenas entre os mais antigos. Eles falam sobre "A Dama das Sombras", um espírito vingativo que vaga pelos becos e vielas à noite, chamando por aqueles que ousam escutá-la. Seu sussurro é frio como a neblina que cobre a cidade ao entardecer, um murmúrio que se arrasta pelas frestas das janelas e pelos corredores vazios.

A história começou no século XVIII, quando uma mulher chamada Isadora Monteiro foi acusada de bruxaria. Dizem que ela conhecia os segredos das ervas e murmurava palavras em línguas antigas enquanto vendia suas poções na feira. Os moradores desconfiavam dela, pois seus olhos pareciam ver além da realidade, e os que a desafiavam logo adoeciam ou desapareciam sem explicação. Em uma noite tempestuosa, ela foi arrastada pela multidão até o centro da praça e queimada viva. Suas últimas palavras, sibiladas entre a fumaça negra e o cheiro de carne queimada, foram uma maldição sobre a cidade: "Quando a noite engolir a luz, serei a sombra que observa".

Desde então, acontecimentos estranhos marcam Embu das Artes. Pinturas desaparecem dos ateliês e reaparecem deformadas, com figuras sombrias espreitando entre os traços. Estátuas de pedra mudam de posição da noite para o dia, algumas até mesmo exibindo expressões diferentes, como se observassem os transeuntes. Artistas que passam madrugadas trabalhando juram ouvir sussurros e sentir presenças invisíveis. Outros relatam sombras alongadas que se movem sozinhas, sem qualquer fonte de luz para projetá-las.

Foi o que aconteceu com Eduardo, um jovem escultor que chegou à cidade em busca de inspiração. Instalado em um pequeno ateliê perto da Igreja Nossa Senhora do Rosário, ele começou a esculpir compulsivamente uma figura feminina envolta em sombras, como se seus dedos fossem guiados por algo além de sua vontade. Sua obsessão cresceu, e cada noite ele percebia novos detalhes na escultura que jurava não ter esculpido: olhos fundos e vivos, uma boca entreaberta como se quisesse sussurrar algo proibido.

Certa noite, ao acordar com um arrepio gelado, encontrou sua escultura... diferente. O rosto da mulher agora sorria de maneira distorcida, e seus olhos pareciam segui-lo pelo ateliê. Uma inquietação profunda se instalou nele. Na noite seguinte, Eduardo ouviu passos arrastados do lado de fora. Quando olhou pela janela, viu uma silhueta escura parada no meio da rua vazia. Seus olhos eram duas cavernas de escuridão absoluta, e de sua boca emanava um sussurro ininteligível, carregado de um ódio ancestral. Eduardo tentou gritar, mas sua voz morreu na garganta. A figura estendeu uma mão esquelética em sua direção, e o jovem sentiu um frio terrível invadir seu corpo, paralisando-o.

Na manhã seguinte, Eduardo desapareceu sem deixar vestígios. Sua escultura foi encontrada na praça central, com um detalhe aterrorizante: sua boca agora estava aberta em um grito silencioso, e seus olhos transbordavam desespero esculpido em cada linha do mármore. Os moradores sussurraram entre si, lembrando-se da lenda. Mais um tolo havia desafiado as sombras de Isadora Monteiro.

Até hoje, quem anda pelas ruas de Embu das Artes à noite pode sentir algo observando. E se, por acaso, ouvir seu nome sendo chamado por uma voz doce e rouca, o melhor a fazer é correr e nunca olhar para trás. Porque, se olhar, pode ver algo que nunca mais o deixará partir.

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