*Thiago Prado
Como disse certa vez a atriz Denise Fraga, todo mundo tem um sonho buzinado. Você lembra qual é o seu? Chacrinha, até a década de 80, buzinava no show de calouros para sinalizar que um candidato estava eliminado. Assim, o sonho de cantar na TV e virar uma estrela se acabava diante de uma buzina.
Ao longo da vida, todos se deparam com buzinas; o “não” para um sonho. É certo que alguns mais, em decorrência de questões sociais e raciais, por exemplo. Mas a buzina toca um dia para todo mundo. Lidar com frustrações é inerente à vida, e é necessário lidar com elas desde a infância, ainda que alguns pais tentem conter essa experiência para os filhos.
“Se os pais não souberem fazer as crianças lidarem com esse sentimento, com certeza a frustração será maior, o que pode transformá-las em adultos que não conseguem receber um ‘não’ como resposta”, afirma a professora, doutoranda em Educação e coordenadora do curso de Pedagogia da Estácio Interlagos (SP), Fernanda Arantes.
Um amor não correspondido, uma viagem planejada por meses que vira um grande perrengue, um curso tão desejado, mas que se revela uma furada, aquela casa ou aquele carro que você não conseguiu comprar, aquele concurso que você não passou ou simplesmente não te chamaram.
Há também quem passe a vida toda fazendo planos de uma velhice tranquila, mas que quando chega lá descobre que precisa continuar trabalhando, ou que a saúde não lhe permite usufruir daquilo que construiu. E quando isso acontece no momento que se entende que já não há mais tanto tempo, o que fazer? Será que vale adotar como estratégia para evitar frustrações não sonhar mais?
Sonhar pode ser a última coisa que nos reste. Aquilo que irá nos entreter na solidão, fazer sorrir com as visitas na sala da UTI, ou mesmo com os funcionários da limpeza do hospital. O que vai nos trazer esperança e talvez até alguma paz mesmo nos momentos mais difíceis. Por isso, sonhe. Mesmo que a buzina toque, "é um barato o cassino do Chacrinha".
*Thiago Prado é escritor, artista visual, cineasta e escritor. Na mais recente publicação “Que será, será”, ele aborda o ser e o sentir no mundo contemporâneo.
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