De acordo com a McKinsey & Company, esse grupo permanece entre os mais vulneráveis à falta de serviços adequados e ao atendimento precário em todas as áreas do consumo.
Uma publicação inédita do Instituto DataRaça e Akatu, divulgada durante o mês da Consciência Negra (20), revela que um em cada três negros, no Brasil, afirma ter sido vítima de discriminação racial em espaços de convivência. As recorrências são frequentes em lojas de vestuário (24,5%), shoppings (17%), supermercados (16,8%), órgãos públicos (5,5%) e até salões de beleza (1,8%).
Não é de hoje que profissionais e consumidores negros enfrentam barreiras no que diz respeito à estética e o acesso a espaços de prestígio. Mesmo compondo 55,5% da população brasileira, o equivalente a 112 milhões de pessoas, segundo o Censo 2022 do IBGE; o preconceito acerca da ‘figura negra’ na sociedade ainda provoca hostilidades públicas, das escolas e comércios às academias.
Apesar dos desafios, a presença do consumidor afrodescendente segue aquecendo a macroeconomia. O poder econômico coletivo dessa classe deve expandir em até US$ 1,7 trilhão pelos próximos cinco anos, de acordo com insights da McKinsey & Company.
Mesmo diante deste mercado em potencial, a McKinsey revela que esse público é o mais propenso à escassez de serviços, assim como a serem mal atendidos em todas as áreas de consumo. Em contrapartida, os comerciantes perdem a chance de dialogar com um público interessado, já que 24,6% dos consumidores deixaram de comprar em lojas vistas como racistas.
Atenta a esse cenário de transformações, a Consultora de Imagem Identitária e Investida da 9º edição do Shark Tank Brasil, Cáren Cruz, revela que o preconceito estético que cerca o ‘jovem negro’ no Brasil não pode ser avaliado de forma isolada, mas pela ótica do período da escravatura no Brasil, e como esse legado tem se difundido desde então.
“A estética do jovem negro ainda é lida de forma preconceituosa porque a sociedade insiste em enxergar o corpo negro a partir do estigma, e não da potência. A superação desse quadro exige letramento racial, ou seja, uma educação crítica sobre como o racismo estrutura nossa percepção, para que a imagem deixe de ser dispositivo de exclusão e se torne território de liberdade e dignidade”, explica.
Dentro da consultoria de imagem identitária, a profissional revela que ressignificar a leitura social é possível através do letramento racial, a fim de compreender como o racismo molda as percepções estéticas e culturais. “Assim, recursos que estão à nossa disposição, como as vestimentas, deixam de ser meros acessórios e passam a ser discurso social; um texto visual que denuncia desigualdades, questiona estigmas e, ao mesmo tempo, (re)afirma identidades”, aconselha.
À frente da Pittaco Consultoria e da Pittaco Academy, Cáren tem transformado a vida de mais de 4 mil afrobrasileiras, posicionando a moda como estratégia de poder simbólico. “Esse é o recurso que usamos para ocupar espaços sem pedir licença, para transformar leitura em narrativa, e para reposicionar a imagem negra não como desvio, mas como centro de potência estética e cultural. Se entendemos, através do letramento racial, as leituras sociais que criminalizam a estética negra, conseguimos entender o quadro geral de hostilidade contra nossa comunidade”, destaca a especialista.
A relações-públicas acredita que um outro caminho a ser seguido, para romper as barreiras discriminatórias, é usar da autonomia narrativa. Quando jovens negros ocupam mídias, redes sociais, editoriais de moda e publicidade, trazendo suas histórias para o centro, Cáren afirma que esse movimento desestabiliza a lógica da estigmatização. “A mesma estética que antes era lida como marginal passa a ser reconhecida como identidade, estilo e protagonismo. Esse movimento de falar de si é também um ato de reposicionamento político e cultural”, revela.
Trazer de volta a liberdade criativa, baseada em ancestralidade, memória e desejo pessoal, é um dos conselhos da CEO da Pittaco. “É necessário que a estética negra seja reconhecida, não como uma tendência passageira, mas como parte legítima e estruturante da cultura brasileira e global. A moda, nesse sentido, é território de invenção e de disputa, um campo em que se pode questionar o status quo, deslocar estereótipos e celebrar a pluralidade das estéticas negras e afro-brasileiras. Abrindo esse leque, poderemos ver mais e mais a presença preta nas esferas socioeconômicas, até 2030”, conclui.
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